Taís Araújo e Matheus Nachtergaele reclamam de papéis reduzidos em "Vale Tudo" 2025

Quando Taís Araújo, atriz premiada e referência da negritude sob os holofotes, denunciou a falta de fôlego da sua personagem Raquel, e Matheus Nachtergaele revelou o tamanho diminuto do seu Audálio ‘Poliana’ Candeias, Vale Tudo voltou à casa de TV Globo como tema de debate nacional. O remake chegou ao fim na sexta‑feira, 17 de outubro de 2025, após 173 capítulos, e trouxe à tona discussões sobre representação negra e sexualidade nas telas brasileiras.

Do clássico de 1988 ao remake de 2025

O ponto de partida da polêmica tem origem em Vale Tudo (versão 1988)Rio de Janeiro, obra criada por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. Na época, o drama marcou a história da teledramaturgia ao abordar corrupção, sexo e poder. Quase quatro décadas depois, Manuela Dias, criadora da nova versão, tentou atualizar a narrativa para o público de 2025, sem, porém, escapar das armadilhas do passado.

Estrutura e desempenho da novela em 2025

Estreada em 31 de março de 2025, Vale Tudo (remake 2025)São Paulo arrancou 24,3 pontos de média de audiência nos primeiros episódios, segundo a Ibope. A trama manteve a estabilização em torno de 19,8 pontos até a reta final, número que ainda supera a média dos últimos cinco televisores das 20h. O elenco contava com nomes como Bella Campos, Renato Góes, Cauã Reymond e Débora Bloch, além das duas estrelas mencionadas.

O apagamento da protagonista negra

Taís, que interpreta a empreendedora Raquel, alegou que sua personagem foi "reduzida a mero coadjuvante" após a metade da novela. Em entrevista ao programa Encontro com Patrícia Poeta, na quinta‑feira, 16 de outubro, ela disse que o roteiro "não deu espaço para a nuance que a mulher negra merece". A crítica ecoa o estudo publicado na coluna Veja Gente, que apontou 27% de tempo de tela para personagens negras – um número consideravelmente menor que os 45% registrados na versão original.

Poliana: da homoafetividade à assexualidade

Poliana: da homoafetividade à assexualidade

Já o personagem Audálio ‘Poliana’ Candeias foi descrito como "um dos poucos personagens assexuais da teledramaturgia brasileira". Nachtergaele contou que a decisão surgiu após conversa com Manuela: “Ela me ligou e falou: ‘Descobri que ele é assexual. Dentro da bandeira LGBTQIAP+, é a sigla menos conhecida’”. Na versão de 1988, Poliana (interpretado por Pedro Paulo Rangel) tinha um romance breve com Íris (Cristina Galvão). Agora, a trama evita qualquer envolvimento romântico, ressaltando a dedicação do personagem ao próximo.

Depoimentos e afinidades entre os astros

Durante a mesma entrevista, o ator exibiu carinho pelo par: “Meu amor, falar de você é a coisa mais maravilhosa que tem no mundo”, disse Taís num vídeo enviado ao programa. Ele, por sua vez, ressaltou que o aprendizado foi “maior do que na época de Da Cor do Pecado (2004)”. A dupla, segundo fontes internas da Globo, pretende reunir‑se nas férias de fim de ano, planejando “Ano Novo na praia, pé na areia, muita dança”.

Reações de críticos e especialistas

O jornalista cultural Lúcio Costa avaliou que a escolha por tornar Poliana assexual foi "audaciosa, mas careceu de profundidade", apontando que o roteiro não ofereceu um arco narrativo claro. Já a socióloga Mariana Filho destacou que a "visibilidade de personagens negros ainda está longe do ideal" e sugeriu que futuras produções invistam em consultores de diversidade.

Impacto no público e perspectivas futuras

Impacto no público e perspectivas futuras

Segundo pesquisa da Datafolha realizada em 20 de outubro, 62% dos telespectadores com mais de 18 anos perceberam a falta de profundidade da personagem de Taís, enquanto 48% consideraram a inclusão da assexualidade como "um passo importante, ainda que tímido". A discussão gerou trending nas redes sociais, com a hashtag #PolianaAssexual alcançando mais de 1,2 milhão de menções.

Próximos passos da TV Globo

A direção da emissora ainda não divulgou medidas corretivas, mas anunciou que o próximo drama (programado para janeiro de 2026) terá "comissão de diversidade" no processo de criação. Enquanto isso, atores como Bella Campos e Humberto Carrão, que também apontaram problemas de texto e direção, seguem em projetos paralelos, aguardando novos contratos.

Perguntas Frequentes

Como a falta de fôlego da personagem Raquel afetou a trama?

A redução de tempo de tela limitou o desenvolvimento das motivações de Raquel, fazendo com que sua luta contra o patriarcado parecesse superficial. Isso gerou críticas de especialistas que afirmam que a novela perdeu parte de seu potencial de debate social.

Por que Poliana foi retratado como assexual?

Manuela Dias, a roteirista, decidiu inserir a assexualidade para ampliar a representatividade LGBTQIAP+. O ator Matheus Nachtergaele concordou, e a mudança trouxe nova camada ao personagem, embora a narrativa não tenha explorado plenamente as implicações psicológicas do tema.

Qual foi a repercussão da crítica da coluna Veja Gente?

A coluna gerou debate nas redes sociais e foi citada por sindicatos de atores. Ela apontou que 27% do tempo de tela dedicado a personagens negras é insuficiente, pressionando a TV Globo a revisar suas políticas de diversidade para futuros projetos.

Quais são as próximas iniciativas da TV Globo em termos de inclusão?

A emissora anunciou a criação de uma comissão de diversidade para analisar roteiros antes da produção. Além disso, pretende contratar consultores de cultura negra e LGBTQIAP+ para garantir que futuras novelas reflitam melhor a sociedade brasileira.

Como a audiência reagiu ao final da novela?

Nos últimos episódios, a audiência caiu para 17,2 pontos, indicando que o público perdeu interesse nas tramas secundárias. Ainda assim, a novela manteve uma base fiel, com 12,4% dos telespectadores afirmando que a história ainda tem valor cultural.

1 Comment
Camila A. S. Vargas outubro 19, 2025 AT 00:26
Camila A. S. Vargas

É inspirador observar como a discussão sobre a representatividade negra ganha espaço na grande mídia. A coragem de Taís ao expor a limitação de sua personagem demonstra que o debate está avançando. Da mesma forma, a iniciativa de incluir a assexualidade através de Audálio abre novas possibilidades de inclusão. Espero que a TV Globo considere esses apontamentos e que futuros projetos adotem comissões de diversidade mais atuantes. Que possamos ver cada vez mais narrativas que reflitam a pluralidade da nossa sociedade.

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