Fortaleza encara Inter sem até cinco jogadores: lesões e suspensão tiram peças de Paiva

Fortaleza encara Inter sem até cinco jogadores: lesões e suspensão tiram peças de Paiva

Cinco baixas, um jogo grande: como o Fortaleza tenta segurar a onda

Cinco ausências em um elenco que já vinha no limite. Esse é o cenário que cerca o Fortaleza para o jogo de 1º de setembro de 2025, contra o Internacional. Renato Paiva trabalha com o que tem: uma lista de desfalques que atravessa o campo inteiro — do gol ao ataque — e a missão de manter o time competitivo num confronto direto que cobra concentração e execução.

No departamento médico, seguem fora Benjamin Kuscevic, peça de referência no miolo de zaga; o goleiro Brenno, cuja ausência muda a hierarquia do gol; o meia Moisés, importante na condução e na pressão pós-perda; e Emmanuel Martínez, nome de peso no terço final. Não é só quantidade: são funções-chave que ficam descobertas de uma vez só, mexendo na estrutura e nas sincronicidades do time.

Para piorar, Marinho está suspenso por acúmulo de cartões e vira baixa certa. Sem ele, Paiva perde velocidade, agressividade no um contra um e uma válvula para esticar o campo. O técnico terá de reconfigurar a saída de contra-ataque e a ocupação de corredor, algo que vinha ajudando a aliviar a pressão quando o time precisava respirar.

Há ainda um ponto nebuloso: a preocupação com uma entorse no joelho de outro atleta do elenco, com possibilidade de retorno só em meados de setembro. O clube não confirmou o nome nem o prazo definitivo, o que aumenta a cautela na montagem do grupo para as próximas rodadas.

Apesar do aperto, a equipe tem sobrevivido. Nos últimos cinco jogos, foram quatro empates e uma vitória por 2 a 0 sobre o Santa Fe, resultado que mostrou uma característica clara deste Fortaleza: saber competir mesmo sem estar inteiro. O padrão de jogo nem sempre flui, mas a equipe reduz o risco, empurra o adversário para os lados e administra os momentos ruins sem se desorganizar.

Esse traço, aliás, explica a decisão de Paiva de manter a base de um 4-3-3 ajustável, mais reativo quando necessário, com blocos médios e pressão dirigida na entrada do seu campo. Com tanto desfalque, a chave é simplificar tarefas, reduzir as trocas de posição e apostar em coordenações defensivas que exijam menos entrosamento fino.

Plano de Paiva: ajustes, prováveis e o jogo dentro do jogo

Plano de Paiva: ajustes, prováveis e o jogo dentro do jogo

A projeção de escalação indica Leite no gol; uma linha de quatro com Pacheco, Mancha, Ávila e Mancuso; meio-campo formado por Prior, Sasha e Pablo; e, na frente, Lopes, Bareiro e Allazinho. É um desenho que tenta preservar o equilíbrio e compensar ausências específicas com funções mais claras.

  • Leite no gol: responsabilidade direta nas bolas aéreas e na reposição curta. Sem Brenno, a saída apoiada precisa ser pragmática. Passes simples, pouco risco central e, quando pressionado, ligação longa com alvo definido.
  • Pacheco e Mancuso nas laterais: prioridade para fechar por dentro quando a bola estiver do lado oposto, evitando rupturas entre lateral e zagueiro. Avanço controlado, alternado, para não deixar a última linha exposta.
  • Mancha e Ávila na zaga: dupla com perfil mais de imposição do que de construção. A recomendação é clara: ganhar a primeira disputa e reduzir segundas bolas perto da área. Sem Kuscevic, o timing do bote precisa ser conservador.
  • Prior, Sasha e Pablo no meio: tripé com um primeiro volante mais fixo (Prior), um interno que pisa nas duas áreas (Sasha) e um terceiro homem que faz a ponte com o ataque (Pablo). A ideia é criar superioridade por dentro e liberar um ponta para atacar a última linha.
  • Lopes, Bareiro e Allazinho no ataque: amplitude com diagonais fortes. Bareiro tende a alternar entre referência e arrastador de zagueiros; Lopes e Allazinho ajustam a altura para acelerar transições, especialmente quando o Fortaleza recupera a bola no próprio campo.

Na prática, o 4-3-3 vira 4-1-4-1 sem a bola, com linha média compacta e prioridade para fechar o corredor central. O objetivo é simples: forçar o Internacional a cruzar de longe, onde a defesa se sente mais confortável. Quando recuperar, primeira opção é acionar o lado forte do momento — geralmente o ponta que estiver mais alto —, para atacar em três ou quatro toques.

Sem Marinho, a mecânica de ataque pede ajuste. O drible vertical cede espaço a ultrapassagens coordenadas e triangulações curtas. Não é o mesmo tipo de ameaça, mas pode ser eficiente se as inversões de lado forem rápidas. O passe de segurança para trás não é problema; o problema é não acelerar depois da segunda bola.

Bolas paradas entram como fator crítico. Sem Kuscevic, perde-se estatura na defesa de escanteios. Compensa-se com encaixes por zona mais rígidos, bloqueios limpos e um homem extra na primeira trave. No ataque, variação curta pode funcionar: chamar marcação para o primeiro pau e atacar o segundo espaço com correria vindo de trás.

Outro ponto é a gestão de energia. Com elencos desfalcados, os jogos ficam mais longos. Paiva deve quebrar a partida em blocos: 15 minutos de pressão dirigida, 15 de controle com posse lenta, 15 de transição seletiva. Isso poupa as pernas e mantém a equipe viva no fim, quando um detalhe decide.

O Inter costuma acelerar pelos lados e tem boa leitura de segunda bola. Para neutralizar, o Fortaleza precisa de duas coisas: primeira pressão coordenada no portador e cobertura curta nos meias que atacam a sobra. Se a equipe perder o duelo de segundas bolas, fica presa na própria área. Se equilibrar, o jogo abre.

A consistência recente dá um norte. Os quatro empates mostraram uma equipe que entende suas limitações e não se expõe à toa. O 2 a 0 sobre o Santa Fe mostrou que, quando acerta o timing da pressão e encontra o corredor livre, o time é direto e machuca. Faltou, em alguns momentos, capricho no último passe e melhor ocupação da área. Com o trio projetado à frente, a solução passa por atacar espaços e não apenas pedir a bola no pé.

Sem abrir o elenco a nomes adicionais, Paiva tem uma carta sempre á mão: aproveitar minutos de gente menos utilizada e, se necessário, recorrer à base para encorpar o banco. Essas trocas têm valor estratégico, mesmo que não mudem o jogo tecnicamente. Elas seguram o ritmo do adversário, param sequência de ataques e oferecem respiro para ajustar a marcação.

O risco maior, com tantas ausências, é a cadeia de efeitos colaterais. Sem o titular do gol, a defesa recua meio passo; recuando, o time atrai cruzamentos; atraindo cruzamentos, precisa ganhar primeira e segunda bolas. É aí que a disciplina coletiva vira resultado. Não dá para ganhar todas, mas dá para evitar a avalanche.

Na criação, a ausência de um meia construtor como Moisés quebra o passe vertical de primeira. A alternativa é criar superioridade por aproximação: dois toques curtos para tirar o adversário do lugar e, então, acelerar. Sasha e Pablo são essenciais nessa leitura — um recua para receber, o outro ataca o espaço. O ponta do lado oposto segura a última linha e impede que os zagueiros adiantem.

Há, claro, a variável psicológica. Jogo grande com time remendado costuma gerar um tipo de concentração diferente. A margem de erro fica menor, o plano de jogo ganha importância, e detalhes como a primeira finalização certa ou um desarme forte na intermediária mudam o humor do time. Paiva trabalha muito nessa chave: repetir tarefas, ajustar distâncias e oferecer decisões simples para o jogador em campo.

Se a partida pedir reação, o treinador deve mexer por zonas, não por nomes: trocar o corredor de escape, colocar um meia com perna fresca para o último passe, alongar a equipe com um atacante que ameace profundidade, mesmo que toque pouco na bola. Em jogos de margem estreita, a alteração que muda o contexto vale mais do que a substituição de manual.

O recado para o torcedor é direto: a escalação provável não é sobre brilho, é sobre competitividade. O Fortaleza pode não ter todas as suas peças, mas tem um plano de jogo claro. Se executar bem as transições, proteger a área e aproveitar a primeira chance que aparecer, o time coloca o jogo na temperatura que quer. É pouco glamouroso, mas tem sido eficiente.

No fim, o duelo contra o Internacional será um teste de profundidade do elenco e, principalmente, de tomada de decisão. Com cinco nomes fora e uma dúvida médica ainda no ar, o Fortaleza vai à campo sabendo que cada ação carrega peso. Para Paiva, a noite é de xadrez: simplificar onde dá, ousar quando for preciso e ajustar tudo, lance a lance.

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