- 17.03.08
- Otávio Albuquerque
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Mário Corino da Costa Andrade é um daqueles nomes que vêm à mente quando pensamos em neurologia e contribuições médicas que mudaram vidas. Nascido em 1906, em Moura, Portugal, Andrade logo se destacou como um talento promissor. Foi em Lisboa que ele iniciou sua jornada na medicina, graduando-se em 1929. Mas nem sonhávamos que esse jovem médico faria uma descoberta revolucionária.
Você já ouviu falar da Polineuropatia Amiloidótica Familiar? Talvez pelo nome não, mas muitos a conhecem como a doença de Corino de Andrade. É uma condição hereditária que ele identificou e estudou profundamente. Imagine o impacto de descobrir algo que estava afetando gerações, mas ainda passava despercebido. Sua pesquisa trouxe luz para famílias inteiras, ajudando a traçar caminhos de tratamento e manejo.
Mas Andrade não parou apenas na medicina. Ele também tinha um lado ativista. Em tempos do regime Salazar, Andrade se posicionou contra as injustiças, e isso não passou despercebido. Ele acabou sendo preso, o que nos faz pensar: quantas pessoas hoje têm a coragem de se manifestar abertamente em prol da justiça?
- Infância e Formação Acadêmica
- Contribuições para a Neurologia
- Descoberta da Polineuropatia Amiloidótica Familiar
- Vida Política e Perseguição
- Impacto na Saúde Pública em Portugal
- Legado Duradouro
Infância e Formação Acadêmica
Mário Corino da Costa Andrade nasceu em 10 de junho de 1906, em Moura, uma pequena cidade no sul de Portugal, onde passou seus primeiros anos de vida. A atmosfera tranquila da cidade era um contraste perfeito para a curiosidade inata de Andrade sobre o mundo ao seu redor. Foi ali que ele deu os primeiros passos importantes em sua trajetória acadêmica.
Desde cedo, Andrade demonstrou um grande interesse por ciências e inovação. Sempre questionando, ele tinha um jeito especial de querer entender como as coisas funcionavam, algo que seus professores logo perceberam. A educação formal de Andrade começou nas escolas locais, onde ele era constantemente incentivado a perseguir suas paixões.
Em 1923, Andrade mudou-se para Lisboa para estudar na prestigiada Faculdade de Medicina de Lisboa. Essa mudança foi um divisor de águas em sua vida. No coração da capital portuguesa, ele não só teve acesso a uma educação de primeira linha, como também a um ambiente estimulante que sedimentaria sua carreira na medicina. Sua determinação e paixão pelo estudo eram notáveis; Andrade sempre buscava ir além do que estava nos livros, discutindo temas complexos com seus professores e colegas.
Em 1929, Andrade se formou em medicina, mas isso foi apenas o começo. Mário, com seu diploma em mãos, estava decidido a ir ainda mais longe. O próximo passo foi se especializar em neurologia. Ele foi para Estrasburgo, na França, onde treinou sob a tutela do renomado neurologista francês Dr. Barré. Imagine ter a oportunidade de aprender com um dos melhores da área – não há como negar que foi uma experiência transformadora para o jovem médico.
Durante seus estudos em Estrasburgo, Andrade obteve reconhecimento internacional ao se tornar o primeiro cientista não francês a ganhar o cobiçado Prêmio Dejerine em 1933. Ninguém poderia prever que um menino de Moura se tornaria uma figura internacional tão rapidamente. Esta conquista não só reforçou sua posição como um dos intelectuais mais promissores de sua geração, como também preparou o terreno para suas futuras descobertas revolucionárias.
Contribuições para a Neurologia
Mário Corino da Andrade fez mais do que apenas diagnosticar doenças: ele abriu caminho para avanços significativos na neurologia. Após completar seus estudos na Universidade de Lisboa, ele partiu para Estrasburgo, onde se especializou em neurologia. Lá, ele trabalhou com o renomado neurologista francês Barré, e sua dedicação foi tanta que ele se tornou o primeiro não-francês a ganhar o prestigioso Prêmio Dejerine em 1933. Não é todo dia que um português se destaca assim internacionalmente, certo?
O retorno de Andrade a Portugal em 1938 marcou o início de uma nova era para a neurologia no país. Em Porto, ele fundou e dirigiu o primeiro departamento de neurologia no Hospital Geral de Santo António. Aqui, ele começou a documentar casos de uma neuropatia periférica desconhecida, que mais tarde se revelaria sua principal contribuição: a descoberta da Polineuropatia Amiloidótica Familiar.
Descoberta da FAP
Foi em 1952, através de um artigo na revista Brain, que Andrade divulgou sua pesquisa revolucionária sobre a natureza hereditária da FAP. Ele observou depósitos de amiloide nos tecidos afetados, ajudando a explicar os sintomas debilitantes que as famílias enfrentavam há gerações.
- Identificação Precoce: A descoberta permitiu o diagnóstico precoce, ajudando a melhorar a qualidade de vida de muitos pacientes.
- Tratamento Direcionado: Entender o que estava acontecendo no nível celular abriu portas para terapias mais eficazes.
Além disso, suas contribuições não pararam apenas na FAP. Andrade também se interessou pela investigação da doença de Machado-Joseph. Ele fundou o Centro de Estudos da Paramiloidose em 1960, criando um núcleo de conhecimento que ainda hoje referencia profissionais de saúde.
Por sua vez, todas essas descobertas e esforços fizeram de Andrade uma referência no campo da neurologia, não apenas em Portugal, mas globalmente. Até hoje, seus trabalhos são estudados e continuam a influenciar novas pesquisas.
Descoberta da Polineuropatia Amiloidótica Familiar
Em 1952, Mário Corino da Andrade fez uma descoberta que colocaria seu nome nos anais da medicina. Ele identificou a Polineuropatia Amiloidótica Familiar, também conhecida como a doença de Corino de Andrade, destacando-se como uma das principais figuras no campo da neurologia em Portugal.
Uma das características marcantes dessa condição são os depósitos de proteínas amiloides nos tecidos nervosos, que causam uma série de problemas neurológicos, como dor, problemas sensoriais e motoras. O mais impressionante é que ele não apenas identificou a doença, mas também conseguiu provar que se tratava de uma condição hereditária. Isso foi um alívio para muitas famílias que, até então, não sabiam explicar as estranhas condições que pareciam passar de geração para geração.
E por quê isso é importante?
A identificação de uma doença hereditária não apenas esclarece a causa dos sintomas, mas também abre portas para estudos mais aprofundados sobre seu tratamento e manejo. Com essa descoberta, os médicos puderam identificar pacientes em estágios mais iniciais da condição, oferecendo opções de tratamento antes que o quadro se agravasse.
No entanto, a descoberta de Andrade não foi apenas um marco clínico. Ela também serviu como um catalisador para promover avanços em estudos sobre doenças relacionadas a depósitos de amiloides, abrindo caminhos para pesquisas em diversas outras condições associadas.
Uma descoberta que trouxe reconhecimento internacional
A publicação de seu trabalho na revista científica 'Brain' despertou interesse global, e, embora já tivesse feito nome em Portugal, foi esse artigo que realmente projetou sua carreira internacionalmente. Sua pesquisa contínua na área de amiloidoses não parou por aí, influenciando gerações de neurologistas e pesquisadores científicos pelo mundo afora.
Num cenário onde o conhecimento sobre doenças neurológicas hereditárias era limitado, a contribuição de Corino da Andrade foi um divisor de águas. Hoje, sua dedicação à pesquisa é um exemplo de como a ciência e a busca por conhecimento podem mudar vidas e trazer esperança para muitos.

Vida Política e Perseguição
Mário Corino da Costa Andrade não era apenas um gênio da neurologia, mas também um fervoroso defensor da justiça e da democracia em tempos turbulentos de Portugal. Durante o regime de Salazar, onde muitos viviam com medo de expressar suas opiniões contrárias, Corino da Andrade não se calou.
Ele se juntou ao Movimento de Unidade Democrática, uma organização que buscava a democracia num país controlado por um regime autoritário. Sua participação ativa e vocal o colocou na mira da PIDE, a temida polícia secreta portuguesa da época.
Em 1951, a coragem de Andrade teve um preço: ele foi preso. A prisão, no entanto, não quebrou seu espírito. No fundo, ele sabia que estava lutando pelo que era certo e necessário. E não estava sozinho. Muitos de seus colegas e contemporâneos também sentiram a forte necessidade de mudança. Eles queriam um país onde a liberdade de expressão fosse um direito garantido, e não um privilégio.
Enquanto esteve detido, Andrade refletiu sobre as condições políticas de Portugal e como a ciência e a justiça estavam intrinsicamente ligadas. Sua experiência influenciou não só sua vida pessoal, mas também sua carreira, focando ainda mais em reformar o sistema de saúde para que ele fosse acessível e justo para todos, especialmente nas regiões do norte de Portugal.
O ativismo de Andrade foi mais um exemplo de como a ciência e a política podem se entrelaçar, às vezes de maneira inesperada. Esta combinação fez de seu legado algo muito maior do que suas descobertas médicas. Ele deixou uma marca como um defensor dos valores democráticos em uma era de repressão.
Impacto na Saúde Pública em Portugal
Quando falamos em avanços na saúde pública em Portugal, o nome de Corino da Andrade sempre aparece com destaque. Ele não só trouxe para o mundo a descoberta da Polineuropatia Amiloidótica Familiar (FAP), mas também foi um defensor fervoroso de melhorias no sistema de saúde do norte de Portugal.
Na década de 1960, Andrade foi um dos responsáveis pela criação do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, um centro que até hoje é fundamental para a pesquisa biomédica no país. Este instituto ajudou a formar gerações de médicos e pesquisadores que continuaram seu legado, garantindo que a pesquisa médica em Portugal esteja sempre um passo à frente.
Reforma da Infraestrutura de Saúde
A influência de Andrade se estendeu além da pesquisa. Ele era um visionário que acreditava na necessidade de um sistema de saúde mais acessível e de qualidade. Seu advocacy resultou em melhorias significativas nas infraestruturas de saúde, especialmente no norte do país, uma região que por muito tempo tinha ficado para trás. Sempre preocupado com a saúde pública, Andrade pressionou por hospitais melhores equipados e por profissionais mais bem treinados.
Diversificação do Conhecimento
Além disso, Corino da Andrade foi peça-chave na luta contra outras doenças neurológicas. Ele investigou a doença de Machado-Joseph e fundou o Centro de Estudos de Paramiloidose em 1960. Este centro tem sido um ponto de referência para o estudo e tratamento de doenças hereditárias complexas.
A Verdadeira Herança de Corino da Andrade
O verdadeiro impacto de Andrade na saúde pública vai além das paredes do hospital. Ele inspirou uma mudança de mentalidade, não só entre seus pares, mas também entre as gerações futuras. Seu trabalho mostra como um único indivíduo pode influenciar positivamente a vida de tantas pessoas, um legado que continua a ser honrado até os dias de hoje.
Legado Duradouro
Mário Corino da Costa Andrade deixou uma marca indelével no mundo da neurologia, e sua influência vai muito além das descobertas científicas. Quem poderia imaginar que um médico de uma pequena cidade em Portugal se tornaria uma figura tão importante no campo da ciência?
Uma das maiores contribuições de Andrade foi identificar a Polineuropatia Amiloidótica Familiar, também conhecida como doença de Corino de Andrade. Seu estudo detalhado desta doença hereditária proporcionou um entendimento melhor das neuropatias e trouxe esperança para muitas famílias que enfrentavam esse problema. É uma das razões pelas quais ele é continuamente estudado e reverenciado na comunidade médica.
Impacto Educacional
Além de tratar pacientes, Andrade estava determinado a promover o ensino e a pesquisa em Portugal. Co-fundador do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar no Porto, ele ajudou a transformar o local em um centro de excelência para pesquisa biomédica. Este instituto continua a formar gerações de médicos e cientistas, carregando o legado de Andrade até hoje.
Homenagens e Prêmios
Seus esforços incansáveis e seu impacto duradouro não passaram despercebidos. Ele recebeu numerosas condecorações, incluindo a Grande Cruz da Ordem do Mérito em 1990. Em 2000, Andrade foi presenteado com o Prêmio de Excelência em Vida da Glaxo Wellcome Foundation, um reconhecimento de suas contribuições excepcionais.
Influência no Sistema de Saúde
Em uma época em que a política e a ciência muitas vezes colidiam, Andrade usou sua voz para lutar por reformas no sistema de saúde. Ele foi uma força motriz por trás de melhorias significativas na infraestrutura médica em Portugal, especialmente no norte do país. Graças a profissionais comprometidos como ele, muitos hospitais e clínicas melhoraram seu padrão de atendimento.
Andrade continua sendo um exemplo brilhante de como a paixão pela ciência e pela humanidade pode deixar um legado duradouro. Seus ensinamentos e descobertas permanecem vivos, inspirando novos médicos e pesquisadores a questionar, explorar e inovar.
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